"Não importa se vem do Jardim Botânico ou da igreja. Leva quem der o maior cheque". A pérola é de Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG e revela um pouco do pensamento tacanho que toma conta dos dirigentes do futebol brasileiro na discussão sobre os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de futebol para o triênio 2012-2014.
Na visão apequenada do presidente do Galo, o que determina quem é o melhor parceiro comercial dos clubes é o dinheiro, nada além disso.
Nada que surpreenda, vindo de um dirigente que prega que o marketing representa apenas custo para um clube, não tendo qualquer utilidade além disso. Mas a frase de Kalil preocupa, principalmente, porque a ganância dos dirigentes tem feito com que o futebol brasileiro deixe de pensar no longo prazo para agir apenas no curto espaço de tempo, o que enfraquece a própria instituição.
Ao se balizar apenas pelo preço que é pago, os clubes colocam em segundo plano alguns detalhes importantes para o fortalecimento de seu produto no longo prazo. Não é só quem paga mais que vale mais. Não é o cheque que determina o valor de uma oferta. Ou pelo menos não deveria ser.
Nos anos 80, o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu mudar radicalmente a imagem que as pessoas tinham dos Jogos Olímpicos. Para isso, apostou numa estratégia interessante de negociação do seu principal evento. Não era o preço que determinava qual emissora exibiria a competição, mas sim o engajamento dela com o evento e, principalmente, o alcance que ela teria no seu país. A lógica do comitê com essa decisão era fazer com que, com mais gente assistindo a seu evento, mais importante ele passaria a ser no longo prazo. E, aí, mais dinheiro o COI ganharia com a negociação não apenas da transmissão do torneio, mas também de patrocinadores e consumidores.
No futebol, a Fifa também buscou na Copa do Mundo de 2010 uma parceria comercial com a Sony que não foi baseada meramente no dinheiro. Com a fabricante japonesa, ficou estabelecido que além de pagar para ser patrocinadora da entidade, ela investiria na tecnologia necessária para transmitir 25 dos 64 jogos da competição em 3D. O retorno de imagem da Fifa com isso foi gigantesco, tanto que ela ganhou prêmio pela inovação no evento esportivo.
A concorrência que busca apenas o melhor preço domina, hoje, a gestão pública brasileira. Não se pensa na melhor entrega de produto, mas apenas naquilo que aparentemente gere mais dinheiro ou reduza mais custo para o cofre público. Não se faz nada pensando em melhor produto, em entrega mais eficiente e em melhor promoção daquilo que é feito.
É essa mentalidade que domina agora não apenas Alexandre Kalil, mas a maioria dos dirigentes dos clubes de futebol.
Recentemente, o Campeonato Catarinense de futebol optou por trocar de emissora, baseando-se na oferta financeiramente mais vantajosa e na promessa de que o jogo disputado nas noites de meio de semana começariam às 20h. Oferta aceita, começou o torneio e percebeu-se que a Record, que havia vencido a concorrência, não tinha retransmissora no interior do estado, limitando as transmissões à cidade de Florianópolis...
Nada contra a Record ou a favor da Globo. Mas, se quiserem pensar no longo prazo, os clubes têm de olhar muito mais do que o preço. Independentemente de qual é o cheque, o importante é saber quem é o parceiro e o que ele tem a oferecer. Essa é a melhor oferta possível para os clubes, que precisam ao mesmo tempo exigir isso de seu parceiro.
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