Tempo Real

domingo, 31 de outubro de 2010

O Campeonato pega Fogo. E Felipão e A Bola de Neve

O Cruzeiro igualou-se ao Fluminense em pontos ganhos com sua vitória do Grêmio, em Prudente, por 2 a 0. Perde, ainda, no saldo de gols, mas distancia-se três pontos do Corinthians o que, no entanto, faltando ainda seis rodadas e diante dos próximos jogos, não determina coisa nenhuma.



Ainda está tudo em aberto. Basta verificar os próximos jogos, por exemplo, se é que neste Campeonato daqui para a frente teremos algum jogo fácil: o Corinthians vai receber o Avaí, no Pacaembu, o que lhe dá teóricamente, a condição de favorito.



Enquanto isso, o líder Fluminense jogará contra o Inter, no Beira- Rio, o que é sempre um grande perigo, enquanto o Cruzeiro, em Minas, enfrentará o tradicionalmente difícil São Paulo.



Quer dizer: não é nada difícil que tudo se embole novamente. Assim, como no ano passado, creio, o Campeonato vai ser definido mesmo é bem perto de seu final. Talvez na última rodada.





PALMEIRAS: VITÓRIA E BOLA DE NEVE



Até que o Palmeiras venceu bem o Goiás, apesar do susto no final. O placar foi 3 a 2, mas o domínio do jogo esteve nos pés dos palmeirenses- um belíssimo gol de Tinga, o segundo de Márcio Araújo e o terceiro de Dinei contra um de Jones e outro de Everton Santos-, ah, tudo isso deu a impressão de um jogo de muitas alternativas, com muita gente se esquecendo do detalhe que quatro desses gols saíram nos últimos dez minutos.



O que não vem pegando bem e que me pareceu totalmente desnecessária é essa briga que Felipão criou com os repórteres desde a entrevista coletiva em Minas Gerais, depois do empate diante do Atlético. Como se sabe, sem ser ofendido, ao ser perguntado sobre a situação de Valdívia (e suai fibrose), pergunta mais do que natural, Felipão falou que estava sendo vítima de palhaçada dos repórteres, disse que um era “o mais palhaço de todos”, coisa e tal.



Neste sábado, em Barueri, os repórteres, que suam o dia inteiro para arrancar informações, foram ao estádio com nariz de palhaço, bem vermelho. Resultado: não houve entrevista do técnico e, pior, parte da torcida, se insurge contra a imprensa. Por quê? Não sei.



Tudo isso me parece perigoso Como uma bola de neve.

Patrocínio não é caridade

Daniele Hypólito colocou em pauta, via Twitter, uma interessante discussão para o esporte. Um dos principais nomes recentes da ginástica artística brasileira, Daniele desabafou que não consegue um patrocínio, mesmo tendo bons resultados esportivos. Tamanha desilusão fez com que a ginasta também questionasse o futuro dos atletas no país e, mais do que isso, qual o legado que os Jogos Olímpicos de 2016 deixarão ao país.

É absolutamente justo Daniele colocar o dedo na ferida e expor uma situação delicada que ela passa, mas desde que tenha sentido fazer esse desabafo. Sim, ela é uma dos maiores nomes da ginástica brasileira, tem em seu currículo muitas vitórias, excelentes resultados no passado e bom desempenho na atualidade. Mas será que ela é um bom produto para uma empresa investir?

Essa é a grande questão que tem de ficar na cabeça de quem busca o patrocínio. Por que uma empresa deve se associar a um atleta ou a um clube?

Patrocínio não pode ser encarado como caridade. Nem de um lado, nem de outro. Com a evolução do esporte como ferramenta de comunicação para as empresas, naturalmente não será mais uma ajuda que uma marca dará ao seu patrocinado, mas sim a busca de resultados que ele possa alcançar. Nesse sentido, nem sempre é o desempenho esportivo o que mais conta. Uma empresa pode buscar no esporte algum atributo que aquele atleta ou aquela modalidade traz. E isso não está atrelado necessariamente ao desempenho.

Um bom exemplo disso é a ex-tenista Anna Kournikova, uma das mais ricas do circuito sem ao menos ter vencido um torneio individual. Para as marcas, a imagem que ela representava era mais importante do que o desempenho em quadra. Da mesma forma, as gêmeas do nado sincronizado Bia e Branca Feres conseguem muito dinheiro explorando o lado sensual e a comunicação com o público jovem do que pelo que fazem nas piscinas.

Daniele Hypólito tem todo o direito de reclamar. Mas será que não falta aos atletas brasileiros ter um elaborado trabalho de valorização de sua marca, mostrando que não é só o desempenho esportivo que eles possuem um garantidor de retorno para o patrocínio?

Um dos bons reflexos de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos no Brasil é que as empresas passarão a entender melhor como investir no esporte. Falta o atleta compreender que a fase do "paitrocínio" está próxima da extinção.

O negocião da escolha de uma sede de megaevento

O escândalo que abala a escolha das candidaturas das Copas do Mundo de 2018 e 2022 nada mais é do que um reflexo do grande negócio que se tornou, desde a década de 2000, receber grandes eventos esportivos. Sob o discurso do legado que esses eventos proporcionam, esconde-se uma grandiosa cadeia de investimentos que recebe o país que abriga um megaevento.

A Fifa vive, agora, o mesmo momento mais do que delicado pelo qual passou o Comitê Olímpico Internacional com a escolha de Salt Lake City como sede dos Jogos Olímpicos de Inverno em 2002. Um processo longo de escolha da sede, marcado pela participação de um bom número de candidatos que por sua vez tinham livre acesso aos avaliadores do COI. Uma década depois, o escândalo passa a ser da Fifa, que tentava manter sempre a aura de "lisura" em suas escolhas para sede de Copa do Mundo.

A Fifa que, é importante lembrar, havia feito um estardalhaço pelo acordão político que fez do Brasil único candidato à Copa de 2014. Joseph Blatter criticou a falta de outra alternativa para a América do Sul e apontou esse fato como motivo para, já em 2007, os países lançarem suas candidaturas para as Copas de 2018 E 2022. Com isso, o argumento do dirigente era de que os países teriam mais tempo para se preparar e, mais importante, o rodízio de continentes acabaria.

Na prática, a Copa de 2018 voltará para a Europa, enquanto que o torneio de 2022 poderá ocorrer na Ásia, América do Norte ou Oriente Médio. E essas definições foram abrindo espaço para muita bajulação e algo a mais sobre os delegados da Fifa que escolhem onde será o grande evento de futebol do planeta.

A grandiosidade desses eventos deu espaço para a falta de ética. Hoje, um país recebe bilhões de dólares em investimento para organizar um evento desses. A economia local fica aquecida por cerca de uma década por conta da competição. Diversos políticos se elegem por conta disso, vários empregos são criados, setores econômicos estagnados voltam a ver crescimento, etc. Além disso,o evento gera mídia espontânea do país organizador para todo o mundo, abrindo espaço para realização de novos negócios.

Sendo assim, abre-se caminho, infelizmente, para a manipulação de votos. Vale qualquer preço para que um país seja escolhido como sede de um evento monstruoso como uma Copa ou Olimpíada. Soma-se a isso uma estrutura corrompida como a do esporte e o que era para ser um grande negócio vira um "negocião" para poucos.

A Fifa poderia dar o exemplo e simplesmente cancelar o processo de escolha de sedes para 2018 e 2022, mudando todos os delegados e escolhendo uma comissão técnica, apartidária, para decidir onde serão os próximos Mundiais. Mas como quem escolhe está muito ligado a quem está no poder...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Estádios para a Copa ou para o país?

É sempre importante lembrar essa questão para um país que abrigará a Copa do Mundo. O maior risco que o Mundial pode representar é de que as exigências da Fifa tornem-se obrigação para que as cidades-sedes planejem megaestádios que depois do Mundial deixarão de ser usados, tornando-se enormes prejuízos para os seus administradores.

As edições desta quinta-feira de "Folha de São Paulo" e "O Estado de São Paulo" trazem matérias alarmantes sobre o futuro do Brasil pós-2014. No "Estadão", a promessa da Fifa de que, após o dia 31, quando se define quem serão o presidente e os governadores até 2014, começará a intensificar a cobrança para que os estádios fiquem prontos. Na "Folha", uma reportagem mostra que, até o final do ano, os dez estádios da Copa da África só serão usados 20 vezes nas quase 100 partidas da liga local. Ou seja, os estádios não atraem o interesse dos clubes. Mais preocupante ainda é a constatação de que o Soccer City, construído com financiamento público dentro de todos os padrões da Fifa, já abrigou uma partida do Orlando Pirates para apenas 5 mil pessoas (cabem 84 mil no local).

A realidade do pós-Copa é o que deveria ter balizado os projetos de estádios brasileiros. Não temos de fazer o Mundial pensando exclusivamente nas exigências da Fifa. Elas devem existir para aquele mês em que acontecem os jogos, mas depois disso quem tem de mandar em capacidade de assentos, número de camarotes e afins é a realidade local. Com quase todas as arenas da Copa-14 sendo públicas, o problema é ainda maior. Dinheiro da população para receber algo para o qual ela não foi previamente consultada se deseja ter, além de um enorme ponto de interrogação sobre o futuro dessas arenas após o furacão do torneio.

Os estádios, para a Copa, terão de receber, no máximo, sete jogos durante o período de um mês. Será que é preciso tanto investimento para isso? A demanda, depois do evento, continuará sendo parecida com a do período da Copa?

No mesmo dia 31 de outubro, o Brasil completará três anos de escolha da sede do Mundial. Faltam menos de três anos para o início da Copa das Confederações. Do jeito que está, seria melhor o país abdicar do direito de abrigar o evento. Porque é cada vez mais preocupante a imagem que vamos deixar para quem estiver por aqui em 2014 e o tamanho da conta que vai ficar para nós por conta dos estádios construídos para a Copa do Mundo.

Assunção e Deola salvam o Palmeiras. E Ronaldo vira Esperança.

O futebol é curioso, pois o Palmeiras poderia ter saído de Sucre já praticamente classificado, vencendo o Universitário de Sucre e a temível altitude por dois gols de diferença. Isso porque o gol de Lincoln, aproveitando o rebote do goleiro Lampe depois do chute de Kleber, foi legítimo. Absolutamente normal. E o juiz peruano, Vitor Carrilo anulou. Sem nenhuma explicação.



Mas como gol não valeu, o que valeu mesmo foi a vitória suada, sofrida e chorada por 1 a 0. O gol? Ah, para variar o autor foi Marcos Assunção, de falta, especialidade na qual é mestre, sendo hoje, sem dúvida, um dos melhores do futebol brasileiro nesse quesito. Diria até que, guardadas as devidas proporções, que seu estilo de bater na bola, em cobranças de falta, lembra o do mito Didi, apelidado “Folha Seca”. Um espetáculo.



Além de Assunção, o Palmeiras deve muito de sua vitória a Deola, com belíssimas defesas, façanhas que não são fáceis em especial na altitude- e Sucre fica a 2. 800 metros do nível do mar-, onde a bola toma velocidade e efeito às vezes incontroláveis.



No resto, o Palmeiras foi aquele que não chega a agradar, apesar da boa fase em termos de resultado: muito recuado, recheado de volantes, Valdívia (que se lesionou) em posição intermediária e Kleber sozinho, isolado, lá na frente.



Tanto que levou sufoco do Universitário no segundo tempo. Uma emoção que diria dispensável.



Em todo o caso, ganhou. E está quase classificado para a próxima fase.





RONALDO, UM SOPRO DE ESPERANÇA



A primeira impressão que tive ao tomar conhecimento da entrevista de Ronaldo Fenômeno não foi boa: logo agora? Mas, pensando bem, era preciso criar um fato novo, pois o Corinthians está resignado e cabisbaixo demais para seguir em frente.



Assim, foi oportuna a entrevista de Ronaldo, mostrando entusiasmo com sua volta já no domingo (contra o Guarani), revelando a intenção de jogar todas as partidas que faltam no Campeonato Brasileiro e até mesmo a intenção de convencer o técnico Carlos Alberto Parreira a dirigir o Corinthians.



Resumo da ópera: foi um sopro de esperança.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Hypermarcas deixa de ser tão "hyper" no Corinthians

A Hypermarcas decidiu tirar a marca do sabão em pó Assim da camisa do Corinthians (leia a matéria completa aqui). No lugar, vai colocar o logotipo da Avanço, sua marca de desodorantes, que já está estampada na axila dos jogadores. A decisão representa, literalmente, um avanço no conceito de aproveitamento das propriedades existentes na camisa de um clube de futebol.

Na prática, a camisa do Timão continua bastante poluída. Mas agora é uma marca a menos para confundir a cabeça de quem olha para o uniforme. A Hypermarcas passa a ter "apenas" três marcas suas estampadas: Avanço, Bozzano e Neo Química. Fica, agora, mais fácil para o torcedor identificar as três e relacioná-las ao patrocinador.

Obviamente continua a ser uma salada de logotipos o uniforme alvinegro. Além das três marcas do principal patrocinador, ocupam o espaço o banco Pan-Americano, a fabricante Nike, o próprio escudo do Corinthians e, por fim, nas costas da camisa, a marca da TIM dentro do número. Tudo isso gera astronômicos R$ 70 milhões ao clube (contando o aporte da Nike também).

Só que essa mudança da Hypermarcas mostra que o processo de fazer da camisa de um clube um painel de anúncios e ofertas está começando a acabar. A tendência é começar a haver uma queda nesse tipo de ação de patrocínio no esporte. Uma marca com muita exposição é mais eficiente do que várias com baixa exposição.

O "recuo" da Hypermarcas é extremamente saudável para o futuro do marketing esportivo no país. O Corinthians lançou a moda de poluir os uniformes. Agora, tem a chance de começar a fazer o movimento contrário. O primeiro indício foi dado com essa mudança estratégica do patrocinador. A preocupação de que, com isso, diminui o valor a ser pago pela empresa não é 100% verdade. Resta ao clube conseguir provar que sua camisa é extremamente valiosa. O caminho para isso começou a ser traçado. E é o primeiro passo para mostrar que há pesos diferentes para clubes de tamanho e entrega comercial diferentes no país.

Zé Eduardo Tornou Menos Infeliz a Noite do Corinthians

Normalmente, não poderia estar contente nem um pouquinho que perde- e de virada- de um dos lanternas do Campeonato Brasileiro. E muito menos sabendo que, dos últimos 12 pontos disputados, ganhou apenas dois, conta que seria quase fatal para um pretendente ao título de Campeão Brasileiro.



Pois tudo isso aconteceu ao Corinthians e, na verdade, ainda saiu no lucro: tanto a derrota para o Atlético Mineiro, por 2 a 1, como aquela continha dos dois pontinhos conquistados nos últimos 12, tudo isso fica menor diante do desastre do maior concorrente, o Fluminense, que foi derrotado pelo Santos, por 3 a 0.



Como? Não fica tudo igual? Nem tanto. O Corinthians perdeu jogando fora de casa e o Flu, no Engenhão- quer dizer, no Rio, dentro de seus domínios. Além disso, em um dos critérios de desempate, o de saldo de gols, a vantagem do Fluminense que era de quatro gols caiu para dois, lembrando que o Corinthians tem um jogo a menos- que será contra o Vasco, na próxima semana.



Assim, em relação ao Flu, a situação até melhorou. Poderia ter sido melhor caso Corinthians traduzisse em gols a sua superioridade no primeiro tempo, quando criou chances para ir bem mais além do gol marcado por Paulinho. No segundo tempo, mesmo desorganizado, o Atlético foi para o tudo ou nada, equilibrou as ações, teve coração e cabeçadas certeiras- Werley e Zé Luís viraram o placar e a emoção da torcida.



Mas, duas horas antes, quem jogou por todos foi um quase menino ruivo, camisa número 9 às costas, longe de ter a fama de um Neymar ou de um Ganso. Leva o nome de Zé Eduardo, já foi conhecido por Zé Love e fez gol de todo o jeito. Na verdade, três: um de “puxeta”, aproveitando rebote de chute de Neymar na trave: outro, de canhota, depois de chutão para a frente do zagueiro Durval: e o terceiro, de pé direito, escorando cruzamento.



Foram os três gols do Santos que liquidaram o Fluminense e animaram o Corinthians. Mesmo em noite de derrota.

Jonas, o Artilheiro. E os Outros?

Sempre gostei do futebol desse Jonas. Artilheiro do Campeonato Brasileiro, 17 gols. O atacante do Grêmio está bem à frente dos outros concorrentes na missão de balançar as redes. Aliás, o que faz com sucesso desde que começou no Guarani, tido como fenômeno, e nas fases de altos e baixos no Santos, na Portuguesa, no próprio Grêmio.



Jonas à parte, pergunto: por onde andam os outros artilheiros? São escassos em nosso futebol, hoje em dia, por vários motivos. Um deles é pelo êxodo, pois logo que aparece um goleador por aqui, logo ele vai ganhar seus milhões em outras praças.



Outro motivo- e este me parece ainda bem mais grave- é a mudança de estilo do nosso futebol que, fugindo de suas características, eliminou os pontas, exatamente aqueles tipicamente tupiniquins e que iam até a linha de fundo para cruzar a bola para os então goleadores. Pois os pontas sumiram.



Assim como praticamente sumiu a figura do meia - armador, o que se chamava de cerebral, o que colocava o artilheiro na boca do gol. Como num passe de mágica, o armador sumiu. Em seu lugar entrou um desses brucutus da vida.



E então, concluo, que a marca de Jonas- modesta até, se comparada a goleadores até recentes- passa a ser mais do significativa, transforma-se em desempenho heróico.



A que ponto chegamos!