O escândalo que abala a escolha das candidaturas das Copas do Mundo de 2018 e 2022 nada mais é do que um reflexo do grande negócio que se tornou, desde a década de 2000, receber grandes eventos esportivos. Sob o discurso do legado que esses eventos proporcionam, esconde-se uma grandiosa cadeia de investimentos que recebe o país que abriga um megaevento.
A Fifa vive, agora, o mesmo momento mais do que delicado pelo qual passou o Comitê Olímpico Internacional com a escolha de Salt Lake City como sede dos Jogos Olímpicos de Inverno em 2002. Um processo longo de escolha da sede, marcado pela participação de um bom número de candidatos que por sua vez tinham livre acesso aos avaliadores do COI. Uma década depois, o escândalo passa a ser da Fifa, que tentava manter sempre a aura de "lisura" em suas escolhas para sede de Copa do Mundo.
A Fifa que, é importante lembrar, havia feito um estardalhaço pelo acordão político que fez do Brasil único candidato à Copa de 2014. Joseph Blatter criticou a falta de outra alternativa para a América do Sul e apontou esse fato como motivo para, já em 2007, os países lançarem suas candidaturas para as Copas de 2018 E 2022. Com isso, o argumento do dirigente era de que os países teriam mais tempo para se preparar e, mais importante, o rodízio de continentes acabaria.
Na prática, a Copa de 2018 voltará para a Europa, enquanto que o torneio de 2022 poderá ocorrer na Ásia, América do Norte ou Oriente Médio. E essas definições foram abrindo espaço para muita bajulação e algo a mais sobre os delegados da Fifa que escolhem onde será o grande evento de futebol do planeta.
A grandiosidade desses eventos deu espaço para a falta de ética. Hoje, um país recebe bilhões de dólares em investimento para organizar um evento desses. A economia local fica aquecida por cerca de uma década por conta da competição. Diversos políticos se elegem por conta disso, vários empregos são criados, setores econômicos estagnados voltam a ver crescimento, etc. Além disso,o evento gera mídia espontânea do país organizador para todo o mundo, abrindo espaço para realização de novos negócios.
Sendo assim, abre-se caminho, infelizmente, para a manipulação de votos. Vale qualquer preço para que um país seja escolhido como sede de um evento monstruoso como uma Copa ou Olimpíada. Soma-se a isso uma estrutura corrompida como a do esporte e o que era para ser um grande negócio vira um "negocião" para poucos.
A Fifa poderia dar o exemplo e simplesmente cancelar o processo de escolha de sedes para 2018 e 2022, mudando todos os delegados e escolhendo uma comissão técnica, apartidária, para decidir onde serão os próximos Mundiais. Mas como quem escolhe está muito ligado a quem está no poder...
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