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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O penta, o fim da virada de mesa e o promissor 2002

Se 2001 representou um ano turbulento para o esporte em todo o mundo, o ano seguinte foi de muito mais esperança, especialmente na gestão do futebol brasileiro. Foi o ano do pentacampeonato mundial, do fim das viradas de mesa na bola brasileira e, mais do que isso, do início de uma mudança de comportamento do dirigente esportivo com o torcedor.

A queda das Torres Gêmeas em setembro de 2001 deixou uma marca em toda a estrutura de vida do americano, que com isso fechou-se ainda mais na gestão de seus esportes. Nascar, NFL e as demais ligas do país viraram meios de o americano exercer seu patriotismo e relembrar o golpe sofrido com os atentados terroristas.

Na Europa, ainda sob efeito da quebra dos grandes grupos de marketing e mídia, os direitos de transmissão despencaram, as fontes de receita dos clubes diminuíram sensivelmente e, por fim, a importação de atletas sofreu uma queda significativa. Com isso, o mercado do futebol, especialmente, teve de se reajustar e reordenar a uma realidade financeira mais “pobre”, por assim dizer. Levando em conta o valor superdimensionado em que se encontrava o futebol europeu, a readequação foi mais do que necessária.

No Brasil, porém, 2002 marcou um ano de profundas mudanças que têm seus reflexos nos dias atuais. Por mais que as CPIs não tenham gerado uma punição direta aos grandes envolvidos nos escândalos levantados, os trabalhos sobre a elite dos dirigentes esportivos do país serviram para provocarem significativas alterações na estrutura do futebol o que, consequentemente, levou os outros esportes a reboque.

A conquista do pentacampeonato mundial pela seleção brasileira é emblemática nesse sentido. Afinal, a vitória no Japão e na Coreia devolveu a confiança no futebol nacional. Se, antes da Copa, nem mesmo a TV Globo tinha conseguido vender todas as cotas de publicidade para o evento, depois dela ficou claro para as empresas que investir no futebol nacional era uma necessidade.

O penta deu à CBF, também, a calma que a entidade precisava para tirar a pressão da opinião pública sobre seus dirigentes, especialmente Ricardo Teixeira. Numa manobra política, logo após o Mundial o chefão do futebol no Brasil fortaleceu-se ao colocar fim aos campeonatos regionais e devolver aos Estaduais sua importância. Isso freou a ordenação dos clubes, que gerenciavam as ligas regionais ao passo que abriu caminho para que a CBF fizesse o Campeonato Brasileiro por pontos corridos, o que significou um “cala-boca” para a mídia que tanto criticava a entidade (e Teixeira, principalmente) de abandonar o futebol no país.

Ao mesmo tempo, fora do futebol, o vôlei nacional retomava o caminho de vitórias com Bernardinho no comando da seleção masculina. O título mundial de 2002, o primeiro da história do país, abriu espaço para a retomada da soberania do Brasil na modalidade, ao passo que serviu para “substituir” o efeito Guga, que começava a cair em aproveitamento devido às lesões no quadril.

O segundo semestre do ano, porém, foi o mais significativo, especialmente para o futebol. A queda de Palmeiras e Botafogo para a Série B do Campeonato Brasileiro, sem a possibilidade de uma “virada de mesa” mudar o regulamento da competição, foi importante para dar mais credibilidade à competição.

No campo da política, o fim do ano representou o alicerce para a criação do Estatuto do Torcedor e da responsabilização de dirigentes por maus tratos na gestão dos clubes.

No apagar das luzes do governo Fernando Henrique Cardoso, o Grupo de Trabalho Especial (GTE) do Ministério do Esporte e Turismo conseguiu terminar o projeto de criação do Estatuto do Torcedor, que viria a ser sancionado no governo Lula. Ao mesmo tempo, FHC conseguiu aprovar Medida Provisória que responsabilizava os maus dirigentes com seus próprios bens em gestões temerárias dos clubes e entidades esportivas. A chamada Lei de Moralização foi fundamental para que os cartolas começassem a deixar de achar que eram “mágicos” e passasem a gerenciar os clubes de forma mais responsável.

O Estatuto do Torcedor foi fundamental para que o torcedor passasse a ser colocado em plano de destaque dentro dos projetos dos clubes. Algo que ainda engatinhava no Brasil, mas que já era óbvio para os gestores esportivos nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Quem paga a maior parte da conta do esporte é o seu torcedor. Se ele não for alçado à condição de estrela, não tem como sustentar uma entidade esportiva.

No final das contas, todas essas mudanças deram um sopro de esperança para o ano de 2003, o primeiro em que o Brasil teria a principal competição do futebol jogada em pontos corridos, possibilitando que o planejamento da temporada fosse facilitado. Tanto para os clubes quanto para as empresas.

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