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sábado, 23 de julho de 2011

O mecenato ainda interfere no esporte brasileiro

“Qual o objetivo da EBX com o time de vôlei?”. A pergunta foi feita pelo repórter da Máquina do Esporte a Bernardo Lorenzo-Fernandez, gerente geral de entretenimento do grupo EBX, do bilionário Eike Batista e que anunciou na última quarta-feira investimentos de R$ 13 milhões ao ano na criação de um time masculino de vôlei na cidade do Rio de Janeiro.

“Não temos uma expectativa de retorno financeiro ou de imagem. O que nós estamos fazendo é um investimento no local em que estamos inseridos”, foi a resposta do executivo.

Conclusão. Não há qualquer projeto de longo prazo com a formação de um time de vôlei pela EBX. O RJX, como será chamado, tem um ano de contrato com os seus atletas. Depois disso, ainda não se sabe qual será o futuro da equipe.

O negócio, que já havia sido apontado aqui no blog como uma espécie de divisor de águas para a gestão do vôlei nacional já não começa a ser tão revolucionário assim. Ao não ter um projeto calcado em retornos claros de investimento, Eike Batista presta, na verdade, um desserviço ao vôlei nacional.

Sim, é ótimo termos mais um time de peso disputando a Superliga, ainda mais com toda a força de mídia que envolve qualquer tema ligado a Eike Batista. Claramente, porém, o que o bilionário quer é ser uma espécie de Mecenas, de um endinheirado que nada mais quer do que ajudar o esporte para, em troca, ter outros benefícios.

O status que o esporte confere aos seus investidores leva, historicamente, muitos bilionários a despejar alguns milhões nele. Em troca, além do prestígio, muitas vezes essas pessoas conseguem vantagens em outros negócios pela boa imagem que adquirem ao ajudar projetos esportivos.

Ao que tudo indica, é isso que move ainda a inserção de Eike Batista no esporte brasileiro. Quando um time que custa R$ 13 milhões por ano é anunciado sem qualquer outro projeto a não ser o de “ajudar” o vôlei esporte é lançado, seu efeito sobre o mercado é devastador. Aumento de preços, saída de patrocinadores e fechamento de equipes menores geralmente acompanham esses movimentos.

No caso do vôlei brasileiro, a Superliga ganhou o RJX, mas muito possivelmente perdeu o Pinheiros, clube tradicional do esporte, que perdeu o apoio da Sky (a empresa migrou para o Cimed, em Florianópolis, unindo investimentos para formar um time que pode tentar frear o favoritismo da equipe da EBX).

O mecenato não é bom para o esporte. Ele pode até fazer com que, num primeiro momento, o mercado se aqueça um pouco com a entrada de alguém endinheirado. Mas a “caridade” que geralmente cerca esses projetos faz com que tudo se pulverize em pouco tempo.

No caso do RJX, está claro que o crescente interesse de Eike Batista no esporte tem muito mais a ver com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016 e as oportunidades que o evento vão gerar do que com um projeto bem balizado de marketing por meio do esporte.

Não é difícil prever que a festa dure até 2016 e, depois disso, esses mecenas migrem para outras áreas que atraiam mídia e gerem negócios na mesma proporção que o esporte na atualidade.

Enquanto o esporte for visto como obra de caridade, o mecenato vai continuar a interferir negativamente no esporte brasileiro. Quando o esporte souber se vender como uma plataforma de negócios, com certeza a conversa irá mudar de figura. E a resposta de que não existe um projeto de marca ou de vendas para um investimento de R$ 13 milhões simplesmente vai deixar de existir.

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