E, mais uma vez, uma bola pré-início de uma grande competição começa a dar o que falar... "É leve", "É ruim", "É pesada", "É amarela", "É azul". As justificativas podem variar, mas via de regra sempre vai ter alguém falando mal da bola.
E o problema, quase sempre, não é a bola. Mas a pauta. Com o big brother que se transformou a seleção brasileira, são 24h de programação em cima do time nacional. Uma equipe que, particularmente, é fechada a sete chaves pelo técnico Dunga, o que dificulta ainda mais a imprensa para preencher o espaço com notícia. E, aí, é preciso ver se tem alguma novidade.
Como é o primeiro treino da seleção e não há mais polêmicas sobre Kaká e Luís Fabiano, o grupo está fechado, etc., a pauta vira o primeiro contato com a bola. E, aí, sempre sobra para o goleiro ter de falar alguma coisa.
Só que, o que o jornalista raramente deixa claro para o seu leitor, espectador ou ouvinte é o que há por trás da declaração de um atleta.
Não dá para ser isento quando se comenta sobre a bola da Copa. Praticamente todos os jogadores que estão na África do Sul possuem um contrato pessoal com um fabricante de material esportivo. Júlio César é patrocinado pela Reusch, empresa forte no mercado de luvas de goleiro. Depois do salário na Internazionale, é um de seus maiores rendimentos esse acordo de patrocínio. Dificilmente Júlio elogiaria a bola se não fosse patrocinado pela marca que a produz.
O problema não é falta de ética, não. Imagine o prejuízo que ele teria se pudesse falar bem e se indispusesse com seu patrocinador? Isso sempre acontece. Se perguntassem para Kaká, Grafite e Michel Bastos, não veríamos qualquer crítica à redonda. Os três são os astros da Adidas no time brasileiro.
O mesmo Júlio César declarou na entrevista coletiva de hoje: "se igualarmos na pegada, não tem para ninguém". Seria coincidência que esse é o mote da campanha publicitária da Brahma, que tem o goleiro da seleção como garoto-propaganda?
É, mais ou menos, empresário de jogador usado como fonte de informação. Ele nunca vai criticar um clube para o qual seu atleta pode se transferir e sempre vai valorizar o interesse de qualquer clube, especialmente quando se falam em grandes clubes do exterior. Ou seja, é aquela opinião que, se não for contextualizada, perde o sentido.
A bola é o de menos. A pauta é que precisa mudar. Ou, então, pelo menos deixar clara qual é a relação atleta-patrocínio que está atrelada ao comentário sobre a bola. A favor ou contra.
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