Agora não há mais dúvidas. Na parte técnica, física e mental, o sérvio Novak Djokovic é o melhor tenista em atividade e está definitivamente em condições de brigar pelo número 1 do ranking ao final da temporada europeia, que começa dentro de duas semanas e vai até o início de julho, incluindo saibro e grama.
Se alguém ainda poderia alegar, com razão, que o espanhol Rafael Nadal perdeu a decisão de Indian Wells, 14 dias atrás, por não estar no ritmo ideal após a contusão muscular, desta vez ficou claro que Nole não apenas está afiadíssimo no plano técnico-tático, como também está com um preparo físico inigualável - até mesmo se comparado ao espanhol.
Porém, o que mais se deve valorizar em sua atuação nesta domingo em Miami foi outra das grandes qualidades, senão a maior, de Nadal: o poder de reação, o equilíbrio emocional. Mesmo saindo de um péssimo início de partida, em que levou uma surra de 1/5, ele encontrou o caminho e conseguiu virar um jogo que parecia fadado a ser rápido e cruel. No terceiro set, disputado ponto a ponto, escapou de situações complicadas - Nadal teve um break-point que o levaria para 3/1 e, tenho certeza, à vitória - sem jamais deixar de lutar, de tentar winners, de se empenhar nas devoluções e forçar o saque.
Aliás, justiça seja feita, foi um jogaço e Nadal perdeu por detalhes. O espanhol jogou quase o tempo todo no seu maior nível, cometendo aqui ou ali erros, o que é absolutamente desculpável se considerarmos a dificuldade do vento, das bolas adversárias, das 3h21 de esforço. Trocou o ritmo muitas vezes, indo para winners e para saques inteligentes, e exigiu de Nole também o seu melhor. Não tivesse tão determinado e tão inteiro, o sérvio não teria talvez sequer chegado ao terceiro set. E nada mais correto e eletrizante do que ver a decisão num tiebreak tão apertado. Assisti aos pontos finais de pé, não dava mais para ficar sentado.
Djokovic encerra a primeira parte da temporada 2011, que é praticamente toda disputada sobre piso sintético, com soberania absoluta. São quatro títulos, entre eles um Grand Slam e dois Masters, em que derrotou todo mundo: Nadal, Roger Federer e Andy Murray. Os dois últimos, diga-se de passagem, com folga. Somou assim 4.500 pontos, recuperou o número 2 agora com margem de 1.150 pontos sobre o suíço e candidata-se a ser a principal barreira de Nadal sobre o saibro europeu.
O quanto as derrotas de Indian Wells e Miami poderão influenciar na confiança de Nadal a curto prazo? Sinceramente, acho que muito pouco. Porque Nadal já cansou de provar sua capacidade de deixar o passado para trás, marca dos grandes campeões, e voltará ao cenário em que é um rei indiscutível e temido por todos.
Claro que Nole se tornou de vez uma ameaça como raramente o espanhol teve no saibro dos últimos tempos e os céticos precisam prestar atenção numa estatística sintomática na final deste domingo: Nadal ganhou apenas 45% dos pontos em que jogou com o segundo saque, enquanto o sérvio venceu 71%. Ou seja, quando partiram para a troca efetiva de bolas, Nole foi bem melhor. E, visualmente, a imagem de um Nadal estafado e um Nole passeando em quadra no finzinho do tiebreak dão a dimensão perfeita de que desta vez teremos muito mais equilíbrio.
Se o espetáculo de Monte Carlo, Madri, Roma e Paris for parecido com o que vimos nesta final de Miami, só teremos a agradecer, qualquer que seja o vencedor.
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