Apenas a Fórmula Indy toparia uma loucura como fazer uma prova num circuito novo, de rua, entregue no dia do evento aos pilotos e numa complexa cidade como a de São Paulo. Qualquer outra categoria de automobilismo possivelmente recusaria-se a fazer uma prova nas condições da São Paulo Indy 300.
Antes de os carros entrarem na pista montada em meio ao sambódromo do Anhembi, pilotos e organizadores apontavam a imprevisibilidade como mais um grande aperitivo para o que seria o grande espetáculo do final de semana. Com o cancelamento do treino de classificação e sua mudança para domingo, para alguns ajustes na pista, o discurso mudou. A lembrança constante dos poucos mais de 20 dias para colocar tudo em "ordem" para a prova, a reclamação de que os pilotos não participaram da confecção do traçado, o debate sobre a ausência de testes antes de os carros começarem a rodar.
A cultura americana que faz a Indy existir é a grande responsável pela "loucura" de se fazer a prova no Brasil. O americano entende que, no esporte, é preciso dar espetáculo para o público. Nas corridas, o grande atrativo para o torcedor é ter pela frente uma prova imprevisível, com ferrenhos pegas entre os pilotos, freadas bruscas, marca de pneu no chão, quem sabe até uma ou outra colisão.
A Indy traz a síntese desse conceito em seu formato. Os carros têm o mesmo chassi e são equipados com os mesmos motores. Tudo para assegurar que é o piloto, e não a máquina, o grande responsável pela diferença de desempenho do carro. Os pilotos não precisam necessariamente participar de todas as provas, o que leva algumas corridas a terem mais carro do que realmente seria o "aceitável" numa competição normal.
Só que a Indy teve de pensar melhor antes de aceitar as adversidades da pista no Anhembi. Afinal, no esporte, o espetáculo só consegue ser garantido se houver atleta. E um claro risco da SP Indy 300 era, exatamente, não ter nenhum piloto ao término da prova. Ou, pior ainda, a chance de um terrível acidente era cada vez mais nítida sem as mudanças na pista, especialmente no trecho de concreto do sambódromo.
O espetáculo é a essência da competição esportiva. Mas nem tudo se justifica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário