Treinador diz que já começou a se preparar para o cargo nos últimos seis ou sete anos da carreira como jogador, inspirado em Leão, Luxemburgo, Muricy e outros nomes
Expoente da nova safra de técnicos brasileiros, Dorival Júnior não esconde de onde vêm suas inspirações: Vanderlei Luxemburgo, Emerson Leão, Muricy Ramalho e Luis Carlos Ferreira, com quem trabalhou quando ainda jogava no Figueirense e que o motivou para virar treinador.
Mas, diferente de alguns dos “mestres”, o comandante santista jura não querer “superpoderes”. Definir sozinho as contratações e dispensas de jogadores, exigir comissão técnica própria, dar a palavra final até na escolha da grama e dos aparelhos de ginástica? Nada disso. Os caprichos que, por exemplo, Luxemburgo já teve na Vila Belmiro são dispensados. “O meu trabalho se restringe ao campo e vou me dedicar para isso”, afirma.
Um exemplo desse comportamento está na principal contratação do Peixe para a temporada. A volta de Giovanni, 37 anos, foi definida pelo presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro e pelo gerente de futebol Paulo Jamelli. “Depois de ele ser contratado, um dia, o Jamelli me colocou a situação. Num primeiro instante, eu fiquei preocupado, até porque eu não sabia como o Giovanni estava. Temi pela contratação”, admite.
Hoje, Dorival Júnior diz ter perdido o receio em relação ao meia-atacante. Segundo ele, os dados físicos e uma conversa com o jogador foram suficientes para acreditar que o retorno do ídolo dos anos 90 pode dar certo. Simples assim, como esse paulista de Araraquara, de fala mansa e pausada. Em mais de vinte minutos de conversa com a reportagem do iG, o tom de voz é sempre o mesmo. Seja para falar sobre o esquema tático preferido ou da solitária vida de técnico. “Não é fácil não. No final, a gente fica muito sozinho. Você se retrai, fica isolado, porque tem muito burburinho”, revela, ao melhor estilo Muricy Ramalho, na seguinte entrevista.
Muitos técnicos gostam de gerenciar áreas do clube que vão além do trabalho de treinador de campo. Você quer atuar dessa maneira também?
Eu não tenho esse objetivo. Eu entendo esse comportamento, acho até interessante. Mas hoje eu não quero. Pode um dia vir a acontecer na minha carreira. E também não vejo os clubes preparados para isso. Acho até que o Vanderlei Luxemburgo está sendo um inovador nessa questão. Todo mundo que começa algo... isso acaba criando fatos positivos e negativos. Entendo isso e respeito muito. Daqui a um tempo isso pode virar regra, mas antes quero me preparar para executar uma função como essa. Hoje o meu trabalho se restringe ao campo e vou me dedicar para isso.
Você chegou a ser consultado sobre a contratação do Giovanni?
Quando acertei a minha vinda isso ainda não tinha sido conversado. Depois, o Paulo Jamelli (gerente de futebol) me colocou a situação. Num primeiro instante, eu fiquei preocupado, até porque eu não sabia como o Giovanni estava. Temi pela contratação. Acho que ele não poderia se expor caso não sentisse que estivesse bem. Até por tudo aquilo que ele representa no clube. Me preocupei nesse sentido. Depois, o Jamelli me deu mais dados e, por último, conversei com o próprio jogador. Fiquei mais tranqüilo. Quando conversei com o Giovanni, senti que ele estava disposto, realmente consciente do que estava fazendo. A partir daí, não vi problema nenhum. Até porque é o resgate de um grande ídolo do clube. E eu não poderia jamais tolher uma possibilidade como essa.
Mas você ficou preocupado com a questão física? E que isso poderia influenciar até o esquema ou a formação do time?
Tive essa preocupação. Acho que nós teremos que ter paciência com ele. Não adianta o torcedor achar que ele já está preparado, que ele vai ser o que um dia já foi. Não, nós não podemos jogar uma responsabilidade desnecessária e acima do que hoje ele pode atender. Nós temos que ter a consciência de que ele terá alguns momentos brilhantes, mas não serão, é claro, tão constantes como em outros momentos. Teremos que saber usá-lo no momento certo.
Você ganhou os estaduais de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Ceará. É só o Paulista que está faltando?
É verdade, mas aquele vice de 2007 (com o São Caetano), para mim, foi mais importante do que os outros títulos. Nós montamos uma equipe em três meses, tiramos o São Paulo, que foi campeão brasileiro no mesmo ano, e chegamos à final. Aquilo foi muito importante.
O Mano Menezes e o Ricardo Gomes já anunciaram que, pela Libertadores, vão poupar jogadores no Campeonato Paulista. Você pretende fazer o mesmo, priorizando a Copa do Brasil?
Não, não vou priorizar. Vamos brigar forte nas duas competições. Sei que ainda estamos aquém do que precisamos. Isso tem que ficar claro para o torcedor. E vamos trabalhar para equilibrar essa equipe.
Você colocou um prazo para que a equipe atue da maneira que você pretende?
Sinceramente, não tem como. Em nenhuma equipe você consegue ter essa medida.
Quais as semelhanças entre o Santos que você começa a trabalhar agora com o Vasco do ano passado?
Acho que tem algumas coisas parecidas. Lá, como aqui, era um ambiente de transição política, com a saída do Eurico e a chegada do Roberto Dinamite. Aqui, da mesma forma, com início do trabalho do presidente Luiz Álvaro. Toda a transição cria uma dificuldade para o trabalho. Mas são coisas que com o tempo são contornadas. Agora, em termos de equipe, eu peguei no Santos um time com mais opções. Lá a dificuldade foi maior para formar o elenco. Aqui temos problemas em contratações pontuais. Agora, tem o fato também de eu ter passado pelo que passei no Vasco. Isso me deu experiência na hora de administrar e contornar os problemas que acabam surgindo.
Você é um técnico da nova geração. Pegou um time grande na segunda divisão e conseguiu o acesso. Agora está no mercado de São Paulo. São algumas semelhanças com o Mano Menezes, não?
Sim, há coisas em comum. Eu conheço o Mano bem e admiro muito o trabalho dele. Ele é um dos grandes técnicos dessa geração. Eu o conheci quando ele estava no interior do Rio Grande do Sul e vi todo o seu crescimento. É um orgulho ter semelhanças com uma carreira vitoriosa como a dele.
E quem são os técnicos nos quais você se espelha?
São muitos. Acho que os últimos treinadores que eu tive, ainda quando jogava, foram muito importantes: Muricy, Nelsinho, Leão, Geninho. Tem também o Luis Carlos Ferreira que foi uma pessoa com quem eu comecei a trabalhar como auxiliar. E outros que eu não tive o prazer de trabalhar junto, mas que admiro. É o caso do Vanderlei Luxemburgo, do Parreira e do Zagallo. A nossa geração tem a obrigação de consolidar esse trabalho que foi iniciado por esses técnicos. Eles modificaram a concepção de treinador de futebol dentro do Brasil. Eles souberam valorizar a profissão.
E o que a sua geração traz de novidade? Por que você acha que houve aumento no espaço para os novos treinadores no último ano?
Eu acho que abriu um espaço no mercado. Os casos de sucesso também ajudaram. Quando você se prepara, você acaba ganhando campo de trabalho. O mais difícil é justamente depois disso, de ganhar um nome no mercado. O complicado é conseguir se manter. Para isso, você precisa se preparar bem, saber se corrigir com os erros e agregar coisas novas ao trabalho. Acho que é isso que estamos trazendo de novo.
Quando você começou a pensar em ser técnico?
Foi antes de parar de jogar. Alias, nos últimos seis, sete anos de carreira eu comecei a me preparar. Reparava como os meus treinadores trabalhavam, tentava observar os outros técnicos também. Eu pesquisava para tentar formatar o que eu queria ser como técnico.
Você tem um esquema tático preferido?
Eu procuro me adaptar ao grupo de jogadores que tenho. Mas a base no futebol brasileiro acaba sendo o 4-4-2. A partir daí, a gente muda alguma coisa dependendo dos jogadores. Eu procuro adaptar o esquema em relação ao meu grupo de trabalho.
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