O cenário que se previa para este início de temporada acabou se configurando, pelo menos, no Paulistão, onde Palmeiras e Santos, livres da sobrecarga da expectativa de disputarem a Libertadores, se saíram bem melhor do que São Paulo e Corinthians, empenhados até o pescoço na montagem de times capazes de competir pelo título continental, obsessão de ambos.
O Palmeiras herdou o conjunto da temporada passada e a ele acrescentou alguns reforços pontuais e preciosos, como o zagueiro Léo, ex-Grêmio, e o volante Márcio Araújo, ex-Galo, que conferiram maior segurança à defesa e mais fluência na passagem de bola da defesa ao ataque.
Já o Santos surpreendeu com seu novo time, pontilhado de jovens esperanças, como, por exemplo, o menino Wesley, veloz, hábil e extremamente solidário na marcação e nas deslocações. Jogou muita bola na goleada sobre o Rio Branco, na noite de domingo. Assim, como de resto todo o time.
Mas, embora a grande atração fosse Giovanni, ídolo eterno na Vila, o nome do jogo foi Ganso, um desses raros exemplos de meia cerebral, canhoto, sereno e lúcido. Isso, no raiar dos vinte anos de idade, o que o torna ainda mais raro.
Sim, porque, em geral, esse tipo de jogador vai ganhar tais atributos de armador emérito só lá pelos 37/28 anos de idade, quando a bola, de tanto roçar seus pés, sussurrou-lhe os segredos mais íntimos do jogo.
A propósito, mestre Armando Nogueira, naquele seu singular poder de concisão, há meio século definiu o craque com exata precisão: é aquele que antevê a jogada. Ou seja, quando a bola lhe cai aos pés já sabe o endereço para o qual a enviará de imediato, ou após o tempo certo em que o espaço se abrirá para a definição da jogada.
Pois, eis o que disse Giovanni, depois do jogo, sobre Ganso: “Quando recebe a bola, já sabe o que fará”. É a marca do craque, sem restrições semânticas.
E olhe que o menino só está dando seus primeiros passos.
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