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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O pepino de R$ 100 milhões

Em 2003, quando Marcelo Portugal Gouvêa assumiu a presidência do São Paulo, causou polêmica com o lateral-direito Gabriel, que havia acabado de renovar contrato com a gestão anterior. Na época, Gouvêa disse que tinha no clube um "pepino de R$ 80 mil", referindo-se ao custo mensal de Gabriel, filho do ex-jogador Wladimir e que não vinha bem no clube.

Hoje, acredito que essa seja a sensação da diretoria do Manchester City. Não por falta de aviso, é verdade, mas ela tem em mãos um problema bem maior do que aquele vivido pelo São Paulo no começo da década. Um "pepino" de R$ 100 milhões, valor pago no ano passado pelo clube inglês para contar com os dribles de Robinho, então atacante do Real Madrid.

Sim, o mesmo Robinho que forçou a saída do Santos, em 2005, para a Espanha. E que depois forçou a saída de Madri para Manchester. E que, agora, força de novo a sua saída. Da Inglaterra para... o Santos!!!!! É, realmente, o mundo dá suas voltas.

E, pelo visto, Robinho tenta voltar ao ponto de partida de sua brilhante carreira para, quem sabe, retomar o sucesso esportivo que o fez ser apontado como possível "melhor do mundo" até desembarcar em terras espanholas.

Só que, pela terceira vez na carreira, Robinho decide romper com o clube em que está (e com o qual tem um contrato em vigência) para tentar assinar com um outro que, lhe parece, será melhor (seja do ponto de vista financeiro, como foi antes, seja do ponto de vista profissional, como é agora). Robinho que abriu mão de jogar num dos times mais famosos e respeitados do mundo pelo simples fato de não aceitar o banco de reservas daquele que, de fato, foi o melhor do mundo em 2008, o português Cristiano Ronaldo. Banco de reservas que já teve Beckham, Ronaldo, Raúl e outros tais que passaram pelo estrelado time de Madri. Robinho que preferiu ganhar mais no inexpressivo Manchester City do que ser um dos caras de confiança de Luiz Felipe Scolari no poderoso Chelsea, sempre nas cabeças das finais da Liga dos Campeões da Europa.

Na Alemanha, o francês Ribery tentou fazer a mesma estratégia de Robinho para deixar o Bayern de Munique e defender o Real Madrid. Ouviu um sonoro "não" da diretoria do Bayern e, mais do que isso, recebeu uma lição de moral de que, tendo contrato, ele era obrigado a entrar em campo e defender decentemente o clube que lhe paga salários milionários. É o que deveria ser feito agora em Manchester. É um pepinaço de R$ 100 milhões para se resolver.

Apostar na volta de Robinho ao Brasil para brilhar e chegar bem à Copa do Mundo parece, sob o ponto de vista da gestão do clube, o melhor dos mundos. Porque, caso Robinho de fato recupere um bom futebol e faça um bom Mundial, o Manchester tem dois caminhos a trilhar. Voltar a apostar na qualidade esportiva do atacante ou arrumar um outro clube para tentar recuperar o astronômico investimento feito em sua badalada contratação. Só que, mais uma vez, passará a mão na cabeça do jogador e fará a sua vontade.

É, mais ou menos, o que o Palmeiras aceitou com Vágner Love, o Santos com Rodrigo Souto, e tantos outros casos por aí.

Planejamento da carreira esportiva de atleta é uma necessidade no futebol brasileiro hoje. A cada transferência de Robinho, marcada sempre por polêmicas e longas discussões, isso fica ainda mais evidente. O que seria de Robinho se ele fosse o camisa 7 do Bayern de Munique?

Por Erich Beting

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